Há vários tipos de “saberes” e não são todos iguais, ainda que por vezes se possam confundir. E a que me refiro? Comecemos “pelo início”.
Uma das verdades que não hesito em afirmar é a de que é uma ínfima “gota de água num vasto oceano” o que sei a respeito das áreas e matérias que tive oportunidade de aprender, explorar e conhecer nos meus 25 anos e 6 meses de experiência profissional (sim, aproveitei para “contar” e fiquei um tempo parada a pensar, “como é possível ter o tempo passado assim tão rápido”…).
E outra verdade, que é uma espécie de consequência da primeira, prende-se com a de não ter problemas em dar como resposta um “devo admitir que não sei”, porque,
Já há muito passei a fase de sentir que “não me ficaria bem” dar tal resposta, perante a imagem de desconhecimento e vulnerabilidade que poderia passar e,
A experiência e, precisamente, o estudo e aprendizagens contínuas ao longo da minha vida profissional, tornaram claro que é precisamente o contrário:
A afirmação de saber a resposta com uma pronta “prescrição”, mesmo antes de colocar algumas questões para perceber melhor se a resposta “chapa 5” que a experiência de “ter visto fazer” ou, até, de “sempre ter feito assim durante muitos anos”, é aplicável ao caso concreto,
Normalmente encerra em si o facto de (poder) faltar conhecimento suficiente e fundado, até para se conseguir perceber que poderá ser necessário “ir aos livros”, estudar, pensar, para se conseguir chegar e validar uma resposta que seja, de facto, a mais adequada ao caso.
O “problema” é que quem está “no palco das operações”, que é como quem diz:
- Ou não no meio académico – em que será bem claro e vincado que é suposto haver estudo, pensamento crítico e tempo,
- Ou não em contexto de atuar como consultor ou advogado (ainda recordo bem o tempo que o Dr. Pedro Pinheiro Torres dedicou à pratica da fase da “consulta jurídica” em Prática Processual Civil no Curso de Admissão à Ordem dos Advogados, salientando a importância e extrema relevância de se conseguir fazer um “bom diagnóstico” inicial para uma correta identificação dos passos consequentes possiveis e recomendáveis…),
Poderá sentir-se tentado – mesmo se inconscientemente – a abdicar de pensamento crítico e tempo de estudo e análise, como forma de conseguir dar resposta a tudo o que tenha de assegurar no “dia-a-dia”,
Ou, até, nunca ter conhecido uma realidade que permita ganhar perspetiva e clareza quanto ao facto de que, o que se esteja a fazer no contexto de uma área “técnica” (como a aduaneira) que o operador económico até tenha “dentro de portas”, não seja uma “pura” assessoria técnica, mas mais um replicar de “processos e procedimentos” que advêm,
Mais da experiência e conhecimento de “anos de experiência a fazer de uma dada forma”,
E menos de um conhecimento e método que permita garantir um contínuo “teste de conhecimentos”, em que a única certeza será a de que a necessidade de estudo e consulta regular de fontes fiáveis de conhecimento – como as normativas – que permitam garantir as respostas adequadas aos casos concretos.
Claro que a consequência poderá ser a de “não se entender” porque é que nalguns casos há quem seja “rápido a resolver e desbloquear no dia-a-dia” soluções que permitam, já e só na fase de “preparação logística” dos bens para o transporte internacional” ou, até mesmo, na fase de “declaração à alfândega”, que “nada pare” e noutros há quem “complique” e/ou “perca tempo a analisar e problematizar o que deveria ser simples e óbvio”.
Simplesmente porque quem mais conhecimento detenha, mais dificilmente consegue “não ver o que haja para ver e questionar” e, até, ignorar a necessidade de “parar para pensar, averiguar, não raras vezes, estudar, e colocar no lugar”.
Mas, e voltando ao início desta minha reflexão de hoje, há de facto vários tipos de “saberes” e o “segredo” para que se consiga manter o espírito crítico em “boa forma” e “pronto a entrar em ação” sempre que necessário, é o de conseguir manter a capacidade de os identificar, reconhecendo que:
Há o saber que resulta de anos de experiência no contexto de organizações que executem operações de comércio internacional: o “saber fazer” porque se aprendeu “fazendo” e se “executou durante muitos anos”. Importante, porque não raras vezes é este o “único” – e muito valioso – saber existente no contexto de um operador económico e o que lhe permite que atue “no palco” do comércio internacional.
E há o saber que resulta de um conhecimento técnico, especializado que alia,
Os anos de experiência quer a aconselhar, quer a suportar ou, até mesmo, a executar,
Ao tempo e método que permitem manter ativos os ingredientes chave para “garantir as respostas mais adequadas” ou, no mínimo, a capacidade de identificar os riscos quando, perante cenários em que não resulte possível fazer uma correta e completa identificação do “caso”, uma análise técnica e, consequentemente, identificar a solução/recomendação de implementação ou de operacionalização (v.g., por limitações de tempo e/ou de recursos):
- Espírito crítico,
- Conhecimento das fontes normativas e complementares,
- E capacidade de assegurar uma correta e completa identificação do “caso a analisar” (colocando as questões certas e nunca menos do que as necessárias).
Quanto a mim sigo entusiasmada na senda de evolução profissional e, consequentemente, pessoal:
Aquela em que, com uma equipa a crescer, tenho o privilégio de me encontrar rodeada de pessoas que também gostam de se questionar, de saber “porque fazem o que fazem”, de “encontrar as respostas mais adequadas” e de demonstrar como o que se procura não é alcançar uma espécie de “perfeição ou utopia”, mas, sim, o como é possível trazer para o “dia-a-dia” as soluções técnicas mais adequadas, que aliam o conhecimento com um “saber fazer” que resulta de um questionamento e foco em melhoria contínua.
Sentindo uma grande responsabilidade: a de, em cada dia, procurar dar o meu melhor para liderar e inspirar cada um a, mantendo a sua autenticidade e valor próprio, continuarem a fortalecer a já visível “cola que os une” como equipa para, juntos, acrescentarem e acrescentarem-se o máximo de valor, potencial e conhecimento que, inequivocamente, será sempre maior num trabalho colaborativo em equipa, do que individual.
Reconhecendo, simultaneamente, que são cada vez mais as dúvidas do que as certezas que tenho, mas que é precisamente essa clareza de “saber que nada sei” que mantém bem ativa e desperta a minha capacidade de escutar e aprender, também, com quem me rodeia e tanto me acrescenta todos os dias,
E (re)descobrindo-me numa realidade em que o meu papel e contributo essenciais passe mais por identificar possíveis caminhos a explorar, a tomar ou a suportar decisões, a cuidar e suportar todos os que, para além de mim – e não raras vezes melhor do que eu faria – são os “atores chave” para a descoberta das soluções e caminhos que mais valor permitem criar.