Há questões com que me vou confrontando (não raras vezes de carácter existencial…). E que, diria, serão típicas de quem,
- Apesar de a dada altura do percurso profissional ter tido a curiosidade e vontade de conhecer o “lado do operador económico” e de entrar no “palco das operações”,
- Não deixa de ter bem presente a abordagem e método que caracterizam o papel de um consultor que, mesmo sendo interno e “parte ativa nas decisões e implementação”, acaba por assumir responsabilidades acrescidas.
Mas em concreto a que me refiro?
Para alguém que, como eu, tenho um gosto, apetência e, até diria também, uma necessidade particular de:
- Se é para fazer, fazer o melhor possível,
No sentido de serem utilizados todos os recursos necessários – mesmo se, apenas, de entre os disponíveis (pessoas, conhecimento, informação, meios,…) – para se alcançar o melhor resultado que se determine ser desejável e, naturalmente, possível.
Considerando como “melhor resultado” aquele que permita conciliar todos os interesses em jogo, sem que se deixem de ponderar todas as variáveis relevantes.
- Ir ao fundo das questões, obtendo o máximo de informação possível, para poder tomar decisões ou aconselhar de forma informada e consciente,
Permitindo-me:
– Ou dar “garantia” de que se algo não correr como previsto, no mínimo pensei e obtive informação suficiente que me permitirá identificar a origem do “problema” e/ ou da “divergência” e suportar no que possam ser as ações e medidas consequentes necessárias;
– Ou alertar para os riscos e questões potenciais a considerar, quando não estejam reunidas as condições para se acomodar no processo de tomada de decisão todas as variáveis necessária e opções recomendáveis,
Contribuindo, nesses casos, para processos de tomada de decisão conscientes e devidamente informados quanto às áreas de conhecimento que domino.
- Estudar os temas sobre os quais sou chamada a pronunciar-me ou, até mesmo, a decidir e agir no dia-a-dia, conhecendo quer a situação factual sobre a qual estou a trabalhar, quer o correto enquadramento técnico e teórico das mesmas, o que implica tempo, recursos e disponibilidade,
É “contranatura” considerar como opção (preferencial) começar a pensar mais nas alternativas possíveis para permitir não bloquear ou atrasar algo, ou não adicionar mais requisitos ao processo, quando, fruto do contexto e das necessidades, tal possa ser sentido como “o mas conveniente”,
Partindo do pressuposto que “fazer bem” ou “ter tempo para analisar, estudar e concluir” não vai ser exequível e de premissas como sejam:
- Fazer bem é ser perfecionista (“afinal, ninguém no mundo real consegue fazer como “deveria ser”)
- Não há tempo para analisar a situação, nem obter informação adicional, por isso mais vale começar já a pensar no “Plano B/tático” (“é muito urgente, o contrato já foi assinado, o cliente/fornecedor diz que faz assim com todos os seus outros fornecedores/clientes, haverá um risco real ou estaremos perante um risco meramente teórico?”)
- As fontes de informação mais eficientes são as de quem já tem experiência prática de “como é habitual fazer” (“e se já há quem tenha feito assim e correu bem, está testado, não?”)
- Há que saber “viver com riscos” que sempre existirão (“avança-se e logo se verá, não há tempo a perder…”).
Mas refiro-me ao “contranatura” num sentido positivo, pois tem por consequência o termos sempre bem presente qual o papel que é suposto desempenharmos, perante as responsabilidades acrescidas que decorrem de aliarmos um conhecimento especializado e técnico, com o sermos intervenientes nos processos de tomada de decisão e de implementação.
Por vezes poderá parecer mais simples se detivéssemos menos conhecimento pois, talvez,
- Tivéssemos menos questões para levantar,
- Víssemos menos vezes “para lá da ponta do icebergue” e,
- Fossemos menos vezes os portadores de notícias como as de ser necessário tempo adicional de análise, estudo e avaliação ou de não ser possível avançar como planeado, mas sem deixar de apresentar alternativas sempre que viáveis, o que se torna tanto mais exequível quanto maior for a antecipação do nosso envolvimento.
Mas, nesse caso, não estaríamos a desempenhar o nosso papel pois é precisamente o facto de sermos detentores de um conhecimento especializado – incluindo, e desde logo, o de saber o que é necessário avaliar e que fontes (adequadas e fidedignas) de conhecimento considerar – que nos permite acrescentar um valor que é “o nosso” aos nossos clientes, mesmo (e também) quando “internos e colegas do dia-a-dia”.
E é também por isso que não tenho dúvidas (nunca tive muitas, mas cada vez mais reforço esta minha convicção) de que, para se trabalharem “no terreno” temas de comércio internacional como sejam os aduaneiros, tributários e legais conexos, é necessário garantir, também, nesse “palco das operações”, perfis caracterizados por competências técnicas, analíticas, curiosidade intelectual, capacidade de “colocar as questões certas”, de “ver para além do óbvio” e de pensar “fora de caixas”.
Porque é precisamente quem está no terreno que tem uma visão privilegiada quanto ao que está ou vai acontecer e, se não aliar o deter os conhecimentos e competências necessários com o não perder o foco quanto ao que deve ser o seu papel,
Facilmente desce a fasquia quanto ao valor que pode e deve acrescentar, para além de acabar a validar soluções e a apontar para possíveis recomendações que os demais “veem, interpretam e entendem” como “sem risco” ou “as mais eficientes” do ponto de vista de custo, oportunidades e responsabilidades pois, afinal, são “sancionadas e veiculadas pelos especialistas”.
O desafio será o de garantir um desejável equilíbrio entre: “fazer acontecer” na velocidade e cadência necessárias; a capacidade e resiliência de manter o foco no como se pode e deve fazer melhor, de forma mais consciente e informada; garantir os recursos especializados com o âmbito adequado de competências, responsabilidades e poder de “ação e decisão”; e um adequado dimensionamento e posicionamento desses recursos.
Porque esse equilíbrio garante, não “a perfeição”, mas o “fazer-se o que é suposto” para potenciar a maximização do valor acrescentado, na certeza de que deter conhecimento e pô-lo a render no terreno é um poderoso aliado para quem procure elevar a fasquia e diferenciar-se.