Há uma questão com que me vou confrontando porque, “volta e meia”, se repete o mote para que a mesma volte a “aparecer”:

Porque será que é ainda muito comum encontrarem-se perfis de profissionais a trabalhar temas aduaneiros e outros conexos com comércio internacional, cuja mais valia é ainda muito caracterizada pela “experiência de muitos anos” e os “contactos certos no terreno”?

Mais-valia no sentido de que o valor percecionado e valorizado pelo mercado se funda mais nas certezas de que:

  • Terão sempre uma solução prática e imediata para “desbloquear e fazer andar”,
  • E de que não irão complicar ao alertar (e até “aborrecer”) os operadores económicos quanto ao que “esteja em falta” ou “se justifique ser estudado e aprofundado”, para que se possa fazer “melhor”, trazendo para a equação as variáveis eficiência e compliance, em detrimento da habitual e ainda muito exclusiva “rapidez na retirada das mercadorias da alfândega”?

Das já várias “amostras” que tenho disponíveis na minha “bagagem profissional”, acabo sempre por identificar alguns “fatores chave” para que ainda seja muito assim:

  • Desde logo o facto de os operadores económicos não disporem dos conhecimentos mínimos necessários para que consigam avaliar “melhor” e, até,
  • Colocar as questões certas aos seus prestadores de serviços para perceberem exatamente “o que vai ser feito, como vai ser feito” em comparação com o “como deveria ser feito de acordo com o previsto na lei e boas práticas de comércio internacional”;
  • Os prestadores de serviços que não tenham perdido a noção de que, muitas vezes, o “sempre se ter feito assim” tem por base soluções táticas e de recurso para se “fazerem omeletes sem ovos” que, por isso, deveriam ser táticas e não impedir a necessária e recomendável evolução para as soluções estruturais que se imponham (para garantir a tal eficiência e compliance),

Se deixarem a dada altura “anestesiar e levar” perante o receio de “aborrecerem os clientes” com pedidos e complicações extra que, no limite, até os podem fazer perder o cliente.

  • E, um pouco mais crítico, o risco de que a “versão da história que tantas vezes se repete” mesmo se não fundada em dados objetivos, reais e corretos, acabe por se tornar a versão “original e fidedigna” porque, a dada altura, quem a perpetua já nem se apercebe de que o “sempre se fez assim” não é mais do que um potencial repetir de formas incorretas de “fazer acontecer”.

Já escrevi sobre este tema, mas a realidade é que não deixa de ser atual, já que entendo e observo que se mantém ainda grande clivagem entre:

  • O perfil que considero o “ideal” de profissionais “no terreno”, a trabalhar e influenciar estes temas:

Que tenham curiosidade intelectual, pensamento crítico, conhecimentos técnicos e acesso às fontes fidedignas de informação,

Aliados a uma boa “autoestima pessoal e profissional” e a um reconhecimento superior do “igual valor” para a contribuição para a sustentabilidade e margem do negócio que faça com que não se coloquem “surdinas nas vozes e conhecimentos” destes profissionais.

  • E o perfil que ainda vejo ser muito o predominante:

O de perfis mais operacionais focados em “fazer acontecer e desbloquear” que, sem as componentes de pensamento crítico e conhecimentos e rigor técnicos,

Aliado a, numa grande maioria de casos, nem terem tempo para “parar e pensar” e identificar o necessário para a evolução para soluções estruturais,

Se traduz num perpetuar de “soluções de desenrasca” que só se reconhecem como tal quando ocorra uma “operação STOP”…

 As autoridades aduaneiras que começam a questionar o que “sempre foi aceite” e que, porque “sempre foi assim”, acabou por alimentar a perceção de que porque estaria bem….

Um consultor externo a quem seja dada a oportunidade de assegurar um diagnóstico para identificar potenciais melhorias e que, precisamente por ter os conhecimentos técnicos, a experiência “certa” e o pensamento crítico e o tal rigor técnico a que anteriormente me referia, acaba por identificar riscos e contingências várias e, implicitamente, várias oportunidades e necessidades de melhoria….

Um apoio especializado para acompanhar uma fiscalização de âmbito aduaneiro ou até, infelizmente ainda em muitos casos, já apenas nas fases de resposta a uma notificação de “projeto de correções/liquidações adicionais” ou de recurso à via judicial,

Que acaba a revelar que as probabilidades de sucesso seriam bem superiores se o operador económico tivesse apostado na prevenção e no recurso a um acompanhamento especializado, mais focado na procura e implementação de soluções estruturais,

Tendo por base, não o conhecimento de “sempre se fez assim”, mas o conhecimento que permite trazer para o dia-a-dia as vantagens competitivas que um domínio e prática do que é prescrito pelos normativos aplicáveis e pelas boas práticas de comércio internacional (também) permitem concretizar, a par de uma maior certeza e confiança de que não existirão “surpresas desagradáveis” no futuro com impactos reais e potencialmente materias na margem e, até, na viabilidade de negócios.

Mudem-se paradigmas mas, para tal, eleve-se o conhecimento e, consequentemente, a capacidade de avaliar e valorizar as competências, perfis e conhecimentos certos para os profissionais e players que, no mercado, possam verdadeiramente contribuir para um elevar do potencial ainda muito residualmente explorado da vertente aduaneira e tributária conexa com operações de comércio internacional. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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