Esta semana numa das minhas leituras deparei-me com esta referência: “É só uma perguntinha muito simples (…). A “perguntinha” é, quase sempre, bem mais complexa do que à primeira vista poderia parecer. (…) sobretudo, pelo facto de ser necessário consultar legislação, ponderar as questões seriamente e prestar conselho refletido e seguro”.
E fiquei a pensar porque,

– Se por um lado é (pelo menos quero acreditar que sim) evidente que não é qualquer pessoa/perfil e com qualquer formação que pode ser médico ou advogado,

– Nas vertentes aduaneira e fiscal/legal conexas, há ainda uma espécie de “mindset instalado” que qualquer um é ou pode ser habilitado para as trabalhar e “opinar”.

Creio que por um lado motivado pelo que tive já oportunidade de comentar ser a minha visão (pelo menos do que observo na realidade portuguesa):

– A de serem áreas ainda muito circunscritas a um circulo “fechado” de entidades que intervêm numa grande maioria das vezes apenas já na fase de execução: despachantes e operadores logísticos

– Na esfera das empresas/operadores económicos: ou não existirem áreas habilitadas a trabalhar esses temas (diria que ainda a “regra geral”; ou, existindo, estarem tipicamente enquadradas em áreas logísticas/de transportes e, assim, avaliadas quanto ao que o seu âmbito, objetivos e até um adequado desempenho, sob o mesmo prisma e mindset com que se definem para funções tipicamente logísticas e operacionais.

O que acaba por suceder é que,

– Não sendo a função aduaneira – e fiscal/legal conexas com fluxos de comércio internacional – “desenhada” e desempenhada pelos perfis “certos” e com a formação (e experiência) necessárias,

– Se acaba a estar mais a “olhar para fora” para ver “como fazem os outros” do que a pensar nas soluções e opções que façam mais sentido para a realidade concreta daquele operador económico.

Porque “pensar no que faz mais sentido para mim” implica,

– Por um lado, conhecer bem a realidade do operador económico em causa.

– E, por outro, dispor dos conhecimentos técnicos, do pensamento crítico e das metodologias necessárias para “consultar legislação, ponderar as questões seriamente e prestar conselho refletido e seguro”.

Caso contrário a solução fácil de “ver como os outros fazem com recurso a dois ou três telefonemas aproveitando para mostrar que tenho uma boa rede de contactos”, facilmente redunda numa espécie de “cópia barata” que, talvez já só bem tarde, se consiga reconhecer não ser a mais adequada à “minha realidade”.

E, “pior”: pelo caminho cria-se e alimenta-se a percepção de que qualquer um pode pensar, opinar e trabalhar temas aduaneiros/fiscais/legais, bastando dispor de uma boa rede de contactos e um razoável nível de auto confiança.

Se o trabalho de um “médico”, de um “advogado” ou de outras funções especializadas e eminentemente técnicas, não pode ser desempenhado por profissionais não habilitados, o que justifica que uma função aduaneira/legal/fiscal o possa?

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